segunda-feira, 26 de outubro de 2015

ARTETERAPIA “HIGH TOUCH” – Reflexões sobre o trabalho em grupos arteterapêuticos


Por Eliana Moraes

Nos últimos meses o grupo de estudos “A prática da Arteterapia” percebeu-se em um momento de discutir e estudar sobre uma modalidade de trabalho muito presente na Arteterapia: o trabalho com grupos. Grupos terapêuticos continuados, grupos em vivências, grupos em cursos para arteterapeutas, enfim, cada participante contribuiu com a sua experiência como moderador e/ou participante de um grupo em arteterapia. Percebemos que esta é uma forma de atuar como arteterapeuta que embora bastante comum, não é banal. Possui seu nível de complexidade e que demanda do arteterapeuta se instrumentalizar para seu manejo.

O trabalho terapêutico em grupo nos parece bastante pertinente em nossa contemporaneidade pois uma das características que mais saltam aos olhos em nossa sociedade atual se faz no fenômeno da tecnologia atravessando as relações humanas. Apresenta-se assim um grande paradoxo: a aproximação de seres humanos geograficamente afastados, mas por outro lado o potencial (não determinante) de afastamento daqueles que estão próximos uns dos outros. Nesta era “hight tech” – que se caracteriza pelas tecnologias mais avançadas - os seres humanos vão se dispersando dos contatos visuais, do toque, da escuta, das percepções mais puras do outro ao qual se relacionam, como a postura física, as expressões faciais, as entrelinhas, os silêncios...

E buscando algum embasamento teórico em arteterapia para nossas reflexões, lançamos mão do livro “Grupos em Arteterapia – Redes Criativas para Colorir Vidas” de Angela Philippini, editora Wak. (Imagem de cabeçalho deste texto)

Neste contexto, apreciei e aprendi com Angela quando em seu livro menciona possíveis descompassos de tempo em um processo criativo dentro de um grupo arteterapêutico. Por exemplo se um participante produz de forma acelerada, ela faz o convite de observação e percepção do outro: “Aproveitem o privilégio de ver um grupo trabalhando criativamente, que é sempre muito bonito de se ver...” (p 28) A partir deste exemplo podemos perceber como o trabalho de grupos em arteterapia se apresenta como uma oportunidade de se desenvolver, em contraponto ao conceito de “high tech” e suas relações mecanizadas, o “high touch”: aquele que se refere ao contato humano, a capacidade de compreender as sutilezas dessas interações e de estabelecer a empatia com o outro.

Em uma subversão ao convite tão subjetivo de nossa cultura, os participantes de um grupo de arteterapia têm a oportunidade de saírem de sua zona de conforto, se deslocarem ao encontro com outros seres humanos de forma regular e a partir das propostas expressivas e criativas se perceberem, se pensarem como sujeitos (de) em relação e se assim desejarem, ensaiarem movimentos de mudança que certamente transbordarão para suas relações em outras esferas. Assim, Angela afirma que o grupo arteterapeutico promoverá:

“... atividades abrangendo estágios de desenvolvimento de consciência coletivo-grupal, ciclos que se apresentam e reapresentam de forma similar em grupos muito distintos... [Afirma] a importância dos grupos para constituir redes sociais criativas, base para a construção de comunidades mais harmônicas, fraternas e saudáveis, que são geradas e multiplicadas a cada grupo arteterapêutico...” (p 14)


Para aqueles que já trabalham ou nutrem o desejo de trabalharem com a modalidade de grupos em arteterapia, sugiro a leitura deste livro para embasamento teórico e para apreciação de algumas orientações práticas sobre seu manejo:

“O tema central do livro enfoca a percepção dos grupos como organismos vivos e portadores de características peculiares, sejam favoráveis ou desfavoráveis. E, por isso, seus integrantes necessitam de acompanhamento, estímulo e fortalecimento, para refletirem e elaborarem suas questões coletivas que necessitam ser transformadas.” (p 14)

Para nós do grupo de estudos, ficou claro a grande responsabilidade do profissional de arteterapia na condução de um grupo. Nas palavras de Angela:

“A presença do arteterapeuta como facilitador é de fundamental importância, pois de sua firmeza para sustentar o território criativo e simbólico para o grupo e do ritmo regular das atividades, depende uma parte significativa do sucesso do processo...’” (p 31-32)



Em uma outra oportunidade retomarei este tema, trazendo reflexões mais aprofundadas e práticas sobre este potente e apaixonante trabalho em arteterapia. 

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