segunda-feira, 27 de março de 2017

SÉRIE ARTETERAPIA COM IDOSOS: Sobre os benefícios psíquicos




Por Eliana Mores


Dando seguimento à série de textos sobre a Arteterapia com idosos (ver texto anterior), este segundo texto abordará alguns dos benefícios psíquicos que o procedimento terapêutico da Arteterapia em suas propriedades pode estimular.

A partir da prática clínica com idosos, é possível identificar algumas questões recorrentes advindas da constituição sociocultural e cosmovisão dos indivíduos desta geração. Naturalmente não podemos reduzir a singularidade de cada sujeito desta faixa etária, mas tomando como uma visão geral, é possível citar algumas questões recorrentes na clínica da terceira idade tais como  autoimagem, corpo e sintomas físicos, função social, atividades diárias, relacionamentos, perdas e solidão.

Neste contexto, a Arteterapia em suas propriedades proporciona benefícios psíquicos específicos para o público idoso aos quais podemos destacar:


1) Expressão:

A geração da terceira idade, em geral, é fruto de uma educação rígida e proibitiva do expressar-se, sobretudo o público feminino, que se apresenta como a maior parte da população recebida na clínica da psicoterapia.


A Arteterapia e suas técnicas propõe a abertura de canais de comunicação verbal e não verbais, para a expressão e elaboração de sentimentos, pensamentos, memórias tão íntimas e profundas. Cada conteúdo pessoal:

“... poderá ser registrado e contado por meio de múltiplas estratégias, tantas quantas sejam as narrativas a serem resgatadas, pois os velhos têm muitas histórias, um amplo repertório delas, e o setting arteterapêutico tem boas condições para criar o têmenos necessário, em que estas narrativas serão ouvidas e registradas em sua pluralidade de formas, imagens e cores, tanto sobre as alegrias como sobre as angustias do envelhecer.” (PHILIPPINI, 2015, p 16)


2) Flexibilidade:

A população da terceira idade em geral, traz uma herança cultural do período entre e pós guerra caracterizada por um desejo de estabilidade, visão tradicionalista, necessidade de ordem e controle, além de pensamentos enrijecidos e cristalizados.

A prática da Arteterapia proporciona através de suas técnicas, constantes movimentos de mudança e transformação, o que transbordará para uma postura mais maleável diante da vida e uma maior tolerância a fluidez e a flexibilidade, características tão pertinentes a nossa cultura atual. Pois “a qualidade de vida nesta cronologia pode resultar de uma opção por aceitá-la como uma constante transformação.” (PHILIPPINI, 2015, p 14)

3) Movimento:

Muitas vezes o processo de envelhecimento se dá como um convite ao empobrecimento de movimentos, desejos, relações, reflexões, e uma redução das atividades diárias.
                                                       
Pacientes idosos não raramente apresentam sintomas depressivos como desânimo acentuado, falta de prazer nas atividades e redução de repertório. E a Arteterapia atua como uma subversão a este caminho, fazendo com que o paciente saia do lugar cômodo, da inércia, do conhecido.


O ato criativo em seu processo promove o movimento como um todo: corporal, psíquico e cognitivo. Ele amplia o olhar viciado e reduzido quando apresenta novas possibilidades. Produz inquietude, desperta curiosidade e desafia o paciente. Estimula que ele exercite sua mente, se esforce e busque soluções, fazendo com que amplie seu repertório. Ao ver-se capaz de criar e transformar seus conteúdos em cores, formas e imagens o paciente acessa sua autoestima. Todo este processo produz prazer e estimula o paciente a resgatar seu desejo de vida!


4) Produção:


Infelizmente em nossa cultura, há uma visão do social para o velho como inútil, alguém que já cumpriu tudo aquilo que lhe cabia. Vale observarmos o ato simbólico da instituição da aposentadoria, endereçando este que já cumpriu seus anos de contribuição trabalhista aos seus aposentos apenas para aguardar o fechamento do seu ciclo biológico.

Para aqueles que acreditam que já cumpriram tudo o que lhe cabiam em suas funções e papeis sociais, a Arteterapia propõe uma constante produção, de imagens, obras, arte. Este exercício contínuo naturalmente transbordará para uma atitude produtiva em suas vidas.

5) Visibilidade:


O conceito de Invisibilidade Social se refere a seres socialmente invisíveis, que estão de alguma forma à margem da sociedade, seja pela indiferença ou pelo preconceito. São os não reconhecidos, não vistos.

Neste contexto, podemos pensar sobre a Invisibilidade Social do Idoso pela representação social que desempenha em nossa cultura. Parece paradoxal, pois o idoso tem direito a filas preferenciais, assentos em meios de transporte, tem estatuto e delegacia para cuidar de seus direitos. Porém, no seu dia a dia, nas suas relações mais próximas e no social, muitas vezes o idoso sofre a invisibilidade, sendo colocado no lugar de obsoleto.

Para idosos que se sentem invisíveis socialmente, a Arteterapia é um grande recurso, pois por definição proporciona a materialização dos   seus pensamentos, sentimentos e memórias. Ou seja, no setting arteterapêutico o idoso tem a oportunidade de “tornar visível” o que ele sente ser Invisível para o social: 

“Tanta vida para viver, tanta história para contar. O longevo em sua resiliência acumula múltiplas narrativas, tristes, alegres, sobre perdas, ganhos, projetos construídos, projetos desfeitos. Suas histórias são o legado de uma existência, pronto para ser compartilhado. Mas nem sempre há interlocutores interessados em ouvir. Há de se qualificar a narrativa do idoso... Certamente em Arteterapia, teremos múltiplas formas de facilitar a expressão e o registro destas memórias.” (PHILIPPINI, 2015, p 17- 19)

6) Resiliência:

Muitos idosos encaram o envelhecimento como uma fase marcada por sucessivas perdas de variadas ordens. A Arteterapia e seu constante convite ao processo criativo solicita que a cada atividade o sujeito busque recursos, encontre novas soluções e (re)crie. Este processo criativo contínuo favorece a capacidade de reinvertar-se e a resiliência criativa:


“As atitudes criativas diante das mudanças, sejam físicas, afetivas econômicas e outras decorrentes do envelhecimento, favorecem uma resiliência acompanhada de menores perdas emocionais.” (PHILIPPINI, 2015, p 77)

7) Socialização:

Nesta fase da vida é muito comum que o sujeito seja surpreendido por perdas sucessivas de pessoas queridas como o cônjuge, filhos, familiares e amigos de longa data, ocasionando assim uma sensação de solidão.

A modalidade da Arteterapia em grupos torna-se bastante benéfica neste contexto, pois dentro do ambiente terapêutico promove também a socialização, os relacionamentos interpessoais e a formação de novos vínculos:


“A vivência do grupo arteterapêutico como espaço de interlocução dá ao idoso um novo espaço de compartilhamento de sua subjetividade, onde pode amenizar a vivência de exclusão e reposicionar-se de forma mais ativa e fortalecida para confrontar os desafios do envelhecimento.” (PHILIPPINI, 2015, p 29)


8) Autocuidado:

Por vezes, o maior desafio para um idoso em seu processo de envelhecimento reside nele mesmo, quando cede ao que chamamos de “autoabandono”. Neste cenário o indivíduo assume uma postura omissa não tomando as atitudes necessárias para seus cuidados com a alimentação, exercícios físicos, tratamentos de saúde, demais atividades diárias e relacionamentos.

O ato criativo coloca o sujeito na condição de autor de sua obra, promovendo o responsabilizar-se por sua identidade, biografia, representação social e saúde como um todo. Seu exercício proporciona uma atitude responsável por si como protagonista de sua história, em contínuo autocuidado.


Referência Bibliográfica:


PHILIPPINI, Ângela. Caminho da Arte: Construindo um envelhecimento ativo. Ed Wak. Rio de Janeiro, RJ. 2015.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com

Assim poderemos iniciar nosso contato para maiores esclarecimentos quanto à proposta, ao formato do texto e quem sabe para um amadurecimento da sua ideia.


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segunda-feira, 20 de março de 2017

SÉRIE ARTETERAPIA COM IDOSOS: Sobre a perspectiva da prevenção

Por Eliana Moraes


No dia 11 de janeiro deste ano recebemos com alegria a notícia de que a Arteterapia, dentre outras práticas terapêuticas, passou a integrar os procedimentos do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PNPIC) através da Portaria n. 145/2017. Esta resolução se mostra bastante relevante pois amplia a visibilidade e a discussão entre profissionais, gestores e cidadãos, sobre a importância da expansão do investimento em práticas terapêuticas na área da saúde.

A partir da minha prática por 5 anos em uma instituição hospitalar em que mantinha um núcleo de acompanhamento do envelhecimento dos assegurados do plano de saúde do hospital, pude ouvir e aprender um pouco sobre a necessidade de se assumir a perspectiva da promoção e prevenção em saúde. No entanto, sendo na esfera privada ou pública, a questão do cuidado com a saúde do idoso tem se tornado uma questão bastante atual e amplamente discutida.

Vejo que a prática da Arteterapia com o público idoso tem avançado e penso que este é um excelente e promissor campo de trabalho ao qual podemos nos apropriar e desenvolver um trabalho consistente, seja em atendimentos individuais em consultório ou a domicilio ou até integrar uma equipe multidisciplinar em instituições públicas e privadas. Para tanto é necessário que nós arteterapeutas busquemos instrumentalização para dialogar com os demais profissionais, gestores e pacientes e para desempenharmos um bom trabalho.

Hoje inicio uma série de três textos que compartilho fragmentos do meu trabalho de conclusão do curso de especialização em “Gerontologia e Saúde do Idoso” ao qual defendo que  a Arteterapia apresenta-se como um procedimento terapêutico com amplo alcance e bastante potente, pois através de sua grande riqueza de materiais e técnicas, trabalha simultaneamente duas frentes bastante pertinentes no cuidado com o idoso: o psíquico e o cognitivo.

De fato, a Arteterapia por definição trabalha as questões psíquicas pertinentes ao paciente, promovendo autoconhecimento, expressão, criatividade, sensação de visibilidade, resiliência, a ressignificação de experiências, pensamentos e sentimentos, etc. Simultaneamente, a cada proposta promove a estimulação das mais variadas funções cognitivas como linguagem, atenção,  concentração, memória, percepção, abstração,  funções executivas, praxia, etc. Assim, sua proposta realmente vem ao encontro das diretrizes adotadas pela Organização Mundial de Saúde ao qual pretende estimular o “envelhecimento ativo”:



“O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas.



O envelhecimento ativo aplica-se tanto a indivíduos quanto a grupos populacionais. Permite que as pessoas percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, e que estas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades; ao mesmo tempo propicia proteção, segurança e cuidados adequados, quando necessários.” (OMS, 13) 


Por que investir da cultura da prevenção no cuidado com idosos?

Para que os profissionais de saúde tenham subsídio para apresentarem a relevância de seus procedimentos terapêuticos, principalmente para os gestores de instituições de saúde, é necessário que compreenda todo o contexto ao qual estamos inseridos na atualidade.

A partir  do avanço da medicina e da tecnologia da saúde, houve um aumento da expectativa de vida do ser humano originando o fenômeno do envelhecimento da população mundial. Dentre seus vários desdobramentos, este fenômeno torna-se uma questão social influenciando os sistemas de saúde e previdência social, e torna-se um desafio para o Estado pois diz respeito à segurança econômica dos idosos e do país.

Sendo assim, faz-se necessário uma mudança de perspectiva na área da saúde priorizando a prevenção de doenças e promoção de saúde, pois segundo o dito popular “é mais barato prevenir do que remediar”. Este movimento aponta para uma mudança de cultura, do tratamento de doenças diagnosticadas para a prevenção, ressaltando a importância da qualidade de vida e hábitos saudáveis ao longo de toda ela. Nesta nova ótica, todos são beneficiados: o processo de envelhecimento é vivido da melhor forma possível pelo indivíduo, demandando menos gastos aos sistemas de saúde, público e privado.

Faz-se necessário que a área da saúde em suas mais variadas especialidades pensem sob esta perspectiva e se preparem, investindo em pesquisas para a instrumentalização dos profissionais na atuação com este público:

“... o Serviço de Atendimento e Reabilitação do Idoso (SARI/AFIP) vem realizando pesquisas científicas que buscam comprovar a real eficácia de intervenções não farmacológicas junto à população idosa com ou sem doenças neurodegenerativas e em seus familiares e/ou cuidadores, bem como investindo na capacitação de profissionais que atuem com idosos, contemplando, assim, a promoção de saúde como um ‘processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle desse processo’, conforme estabelecido na Primeira Conferência Internacional de Promoção de Saúde (Organização Pan-americana da Saúde [OPA], 2012).”  (RIVERO et al, 2003, p. 73)

Dentro desta perspectiva a Arteterapia em suas propriedades se mostra como uma das possíveis intervenções em procedimentos terapêuticos para cooperar na promoção da qualidade de vida, promoção de saúde integral e prevenção de doenças. Nos próximos textos abordarei alguns dos benefícios psíquicos e cognitivos na prática da Arteterapia com idosos.

Referências bibliográficas:
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. Envelhecimento Ativo: Uma Política de Saúde. 2005. Disponível em <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/envelhecimento_ativo.pdf> Acesso em 08 dez. 2015.

RIVERO, Thiago Strahler et al. Aspectos psicossociais do envelhecimento. In: Neuropsicologia do Envelhecimento: Uma abordagem multidimensional. Ed Artmed. Porto Alegre, RS. 2013.


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segunda-feira, 13 de março de 2017

UM NOVO OLHAR PARA DENTRO DE SI MESMA: a experiência de um grupo de Arteterapia com mães de pacientes com transtornos mentais graves


Por Janaína de Almeida Sérvulo
janainaservulo@gmail.com


“O cuidado de crianças e adolescentes com transtornos mentais graves exige uma dedicação quase exclusiva de suas mães, seja na atenção diária ou no acompanhamento aos locais de tratamento. Muitas vezes, elas anulam suas próprias vidas para viver em função do filho doente. Portanto, oferecer a elas um espaço de cuidado no próprio local de atendimento de seus filhos é fundamental para evitar o seu próprio adoecimento.” (SÉRVULO, 2015, p.6)

            Há mais de 10 anos, trabalho como psicóloga em um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil (CAPSi) da região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Entretanto, até bem pouco tempo, quase não se ouvia falar, em nosso estado, da aplicação da Arteterapia nos equipamentos do SUS (Sistema Único de Saúde). Considerei, então, como um duplo desafio iniciar a minha prática neste local e com um público que, muitas vezes, fica esquecido: as mães.  A proposta seria, portanto, promover um grupo de Arteterapia com elas.

            Este grupo, em particular, foi realizado com 5 mães de pacientes do CAPSi. O convite foi aberto a outros pais, que, no entanto, não se interessaram ou não deram continuidade. Foram realizados encontros semanais, de 2 horas de duração cada, totalizando 34 encontros.  

No grupo, as mães poderiam, além de falar sobre suas dificuldades, materializar seus conflitos, expressando suas emoções e elaborando melhor a doença do filho através da expressão artística. Mais do que isso, a ideia era oferecer um espaço para que elas pudessem, talvez pela primeira vez, deixar de representar unicamente seus papéis de mães, para se enxergarem em sua totalidade. Ali, naquele espaço protegido, não só os filhos, mas elas também poderiam ser cuidadas.

Como bem descreveu Rufatto (2006),

 “Ao perceber e trazer para o espaço grupal as diferentes manifestações das crianças, o grupo acaba por se deparar com seus próprios limites. Antes de saberem como lidar com os filhos, esses pais passam a observar manifestações em si, que anteriormente reconheciam apenas nos outros.” (RUFATTO, 2006, p. 21)

Frequentemente, as dificuldades vivenciadas pelas mães eram expostas através de queixas. Com a prática da Arteterapia, elas poderiam expressar livremente seus sentimentos, sem o receio das críticas, tão comuns nas relações cotidianas. Dessa forma, seria possível uma comunicação mais aberta e compreensiva entre elas. (CARDOSO & MUNHOZ, 2013)

Com o grupo, esperava-se contribuir para a melhora na qualidade de vida dessas mães, facilitando o seu processo de autoconhecimento e promovendo a melhora na autoestima e no autocuidado. Através dos materiais plásticos e das várias técnicas de Arteterapia, as mulheres por trás das mães começaram a surgir. Elas começaram, então, a perceber o que impedia seu desenvolvimento pessoal e a se enxergar enquanto pessoas com desejos e necessidades, além das obrigações de mãe e de cuidadora de uma criança doente.

Lembro-me até hoje da emoção de uma das mães ao se dar conta que abrira mão do sonho de ser bailarina para cuidar do filho. Com lágrimas nos olhos, ela mostrou sua pintura de uma sala de balé: uma imagem que ficara guardada e uma emoção que ficara calada por muito tempo...

Acompanhá-las nestes momentos de descoberta foi uma experiência muito intensa e gratificante. Certa vez, uma mãe se surpreendeu ao desenhar, a partir de uma imagem abstrata que pintou, um rosto escondido por trás das folhagens. “Esse rosto ficou muito estranho, né? Acho que tem a ver com algo que ainda está escondido em mim e que preciso descobrir”.  E, com o tempo, o estranhamento de entrar em contato com a sua sombra cedeu lugar a um genuíno desejo de se descobrir, de ir ao encontro da sua essência.

Ao final do grupo, ficaram registradas para sempre, na minha consciência e no meu coração, as belas imagens produzidas a partir do sofrimento, dos medos, das alegrias e, principalmente, da força daquelas mulheres. E ficou também o desejo de levar essa proposta para tantos quantos forem os lugares onde existam mães, onde existam mulheres, onde existam pessoas que, por vezes, se perdem ou se escondem em seus papéis, deixando de experimentar este novo e verdadeiro olhar sobre si mesmas.   
   
Este texto foi baseado em fragmentos do meu Trabalho de Conclusão de Curso apresentado em novembro de 2015 como exigência parcial para obtenção de título de Especialista em Arteterapia pela FAVI – Faculdade Vicentina em convênio com o INTEGRARTE – Centro de Atividades, sob orientação do Prof. Dr. Celso Luiz Falaschi. Se alguém se interessar pela leitura do texto original, basta solicitar pelo e-mail janainaservulo@gmail.com, que terei o maior prazer de compartilhar!

Para visualizar o vídeo realizado com as imagens produzidas pelas mães e alguns momentos significativos do grupo, acesse minha página do facebook: @artisticamente7 e clique em vídeos.

Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
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Referências:

CARDOSO, Ângela Maria; MUNHOZ, Maria Luiza P. Grupo de espera na clínica-escola: intervenção em arteterapia. Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, n. 14, 43-54, 2013.

RUFATTO, Amaury Tadeu. Reflexões sobre o trabalho de orientação em grupo para pais em uma instituição que atende crianças com graves comprometimentos emocionais. Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo, v.7, n. 2, p. 18-22, Ribeirão Preto, dez. 2006.

SÉRVULO, Janaína de Almeida. Um novo olhar para dentro de si mesma: uma experiência com mães de pacientes atendidos no CAPSi. 2015. 19 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização). FAVI (Faculdade Vicentina), em convênio com o INTEGRARTE- Centro de Especialidades. Belo Horizonte, 2015.                                                                                                                                                                     
URRUTIGARAY, Maria Cristina. Arteterapia: a transformação pessoal pelas imagens. Rio de Janeiro: WAK, 2008.

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Sobre a autora:


Janaína de Almeida Sérvulo
Graduada em Psicologia pela UFMG, com especialização em Arteterapia pela FAVI, em convênio com o INTEGRARTE.
Atua como psicóloga e arteterapeuta em clínica particular em Belo Horizonte-MG e na rede pública da região metropolitana. Experiência de mais de 15 anos com atendimento individual e em grupo a crianças, adolescentes e adultos.
Para conhecer mais sobre seu trabalho, visite a página do facebook: @artisticamente7





segunda-feira, 6 de março de 2017

APRENDENDO A VER A ARTE COM OS BEBÊS


Por Maria Matina
matinarte@gmail.com

Eu entrei na Arteterapia em busca de uma maior compreensão sobre o poder transformador da arte. Venho de um a família de artistas e desde sempre observei que a arte era muito mais que uma representação. A arte é o resultado de um processo, armazenamento de muitas emoções, capítulo final de uma jornada para o início de outra, um ciclo contínuo e infinito como a própria vida. Ao mergulhar no universo da Arteterapia em 2009, comecei a compreender um pouco mais sobre esse processo e gradativamente fui modificando o meu olhar sobre a arte e o fazer artístico, e uma vez que ele se modifica nunca mais voltamos a ser os mesmos!

Por nascer e viver na arte acredito que naturalmente sempre tive uma certa facilidade para o sensível, invisível e não dito, e isso me conduziu ao longo dos anos nas minhas escolhas profissionais e pessoais. Tive também a sorte de ter bons mestres no meu caminho, pessoas que me apresentaram seus olhares sobre as coisas e que aos poucos foram transformando o meu. Sou muito grata pelos aprendizados e espero poder compartilhar um pouco do meu olhar multifacetado hoje para vocês e futuramente apresentar os meus mestres e seus olhares sobre o mesmo objeto: o bebê. 

Meu trabalho com bebês se deu de forma gradativa, não era algo que eu havia planejado, mas a vida foi me apresentando esse universo e eu fui engatinhando em direção a ele. Comecei trabalhando como assistente de um musicoterapeuta que tinha um espaço de desenvolvimento infantil e um dom incrível para se conectar com as crianças. Depois de alguns anos trabalhei em uma clínica de psicologia focada na estimulação precoce e foi onde me encantei pelo trabalho exclusivamente voltado para bebês e de lá fui parar no Museu de Arte Naïf (Rio de Janeiro) que precursoramente tinha um projeto de visitação ao museu voltado para os bebês e suas famílias. 

Hoje posso dizer que começo a querer dar meus primeiros passos nessa aventura que é trabalhar com bebês e tem sido um aprendizado maravilhoso pelo qual cada vez me encanto mais. Atualmente vivo entre Portugal e o Brasil e o maior desafio  tem sido compreender essa nova cultura. Realizei dois encontros para bebês em Lisboa e foi incrível constatar que apesar das diferenças os bebês são igualmente abertos e fascinados, o único contraste entre as culturas se dá na relação com os pais. Aqui os pais demoram um pouco mais a se envolver com a proposta, porém estão muito mais atentos durante a atividade (sem a presença constante do telefone tirando fotos). Ao longo do encontro vão se soltando e o resultado final têm sido o mesmo nos dois lugares: a alegria estampada no rosto. 


Os bebês são seres em total conexão com o momento, vivem e experimentam o mundo de forma muito intensa, são capazes de perceber e sentir (olfato, tato, audição, paladar e visão) o todo ao seu redor de uma forma muito mais complexa do que os adultos. O cérebro do bebê está em constante desenvolvimento e crescimento. Em 12 meses de vida o bebê chega a ter o dobro de neurônios que uma pessoas adulta e é fundamental nesses primeiros meses de vida uma estimulação correta e ampla para que se possam criar o máximo de sinapses e ligações possíveis.

Na minha prática acredito que o primeiro passo para trabalhar com os bebês foi me abrir à percepção deles, me “despir” das minhas defesas e rigores, me permitir brincar e me relacionar. Ao estarmos dispostos a nos relacionar abrimos o caminho para a troca. É importante estar consciente de que tudo é novo e fascinante para o bebê e que o aprendizado e interesse podem estar em tudo (na brisa, no olhar, na textura, no som, na sombra, no sabor, etc).

Outra coisa fundamental no trabalho com bebês é o acolhimento e atenção aos pais, pois como dizia Winnicott “Não existe um bebê sozinho, ele existe com sua mãe”. A inclusão dos pais na atividade é fundamental, é através deles que o mundo vêm sendo apresentado ao bebê e é nosso dever (terapeutas, dinamizadores e professores) cuidar dessa relação com atenção, respeitando a díade que mãe-bebê representam e facilitando breves desligamentos (momentos em que os indivíduos se descolam). 

O seguinte passo para se trabalhar com bebês é sem dúvida criar um ambiente facilitador (Winiccott), desenvolver e escolher materiais adequados para cada faixa etária. Eu particularmente gosto de criar materiais principalmente utilizando sucata pois aprendi ao longo dos anos com meus mestres que no caso de bebês “menos é mais”, o primordial é  que o material seja seguro, higiênico e interessante para o bebê.  


Ao nos abrirmos para a relação com o bebê e sua família e criarmos um ambiente facilitador, damos o primeiro passo em direção ao trabalho com bebês. Os seguintes passos se darão nas atividades. Os bebês são capazes de perceber diversos estímulos simultaneamente, então é muito importante apresentar as propostas por partes (apresentando e retirando os estímulos) e de maneira multissensorial, respeitando o ritmo do bebê e seu interesse natural. Acredito que o tempo ideal de atividade para bebês seja de 40 min a 1h.

Hoje compartilho com vocês um pouco da minha prática com bebês e dos cuidados que considero mais importantes. Minha intenção é apresentar nos próximos textos os colegas que me inseriram no maravilhoso mundo dos bebês e suas práticas na área da música, psicologia e educação. Agradeço o convite do Não Palavra para escrever sobre minha experiência, têm sido um excelente pretexto para mergulhar um pouco mais na teoria e com ela complementar meu saber.


Caso você tenha se identificado com a proposta do “Não palavra abre as portas” e se sinta motivado a aceitar o nosso convite, escreva para naopalavra@gmail.com
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Referências Bibliográficas:
A criança e seu mundo (Winnicott). Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1985

Baby Art: os primeiros passos com a arte (Anna Marie Holm)
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Sobre a autora: 

Maria Matina é artista, educadora e arteterapeuta, nasceu no Rio de Janeiro numa família de artistas. É coordenadora e co-fundadora da Casa Benet Domingo, atualmente divide-se entre a Europa e o Brasil realizando projetos artísticos e culturais e em busca de parcerias institucionais para a Casa.